Isto aqui é um anúncio que usa dois elementos compondo um terceiro: o cérebro. Você viu vários assim que eu sei. Em fundo branco. Título fonte 8. Logotipo pequeno no canto direito. Um anúncio que, pela sacada visual, já foi inscrito nos principais Festivais. 1+1=3.
E isso nada mais é do que aquilo que pretendemos fazer todo santo dia no trabalho. Um anúncio que comprove que usamos o cérebro. Que contenha a tal ideia matadora encontrada no twitter junto a tag #duka. Nada mais do que aquilo que nos faz sair tarde do trabalho com certo prazer, ao mesmo tempo em que deve fazer o DC vislumbrar mais um prêmio na estante, e muito provavelmente vai fazer o cliente dizer não.
Eu poderia colocar aqui uma série de frases entre aspas, em que nomes de ponta da comunicação publicitária mundial batem na mesma tecla, valorizando as ideias com cheiro de fosfato tostado mas, em vez disso, vou é rasgar meu coração. Isso mesmo. Este é um anúncio que fala de cérebro, escrito pelo seu arquirrival.
Um anúncio que sai das entranhas das tais abordagens emocionais, as human interest, para dizer coisas que você, quem sabe um sonhador meio alienado pelas aulas da faculdade, ou um desesperado por um lugar ao sol, ou quem sabe ainda um espertão que acha que fazer piada é fazer propaganda, precisava escutar. Mas duvido que o seu professor que nunca provou pizza em agência teria coragem de dizer. Portanto, como a porta, aqui a leitura é serventia da Casa:
– A facul não forma estrelas. Esteja preparado para sair quase tão cru quanto entrou no curso de publicidade.
– Nenhum profissional de publicidade pode ser maior do que a sua mera obrigação. Não pode querer se sobressair ao resultado que o seu trabalho deve trazer ao cliente. Não é o genial, mas a dedicação que conta ao final.
– (outro modo de dizer a mesma coisa) O talento do publicitário deve se dirigir ao resultado do cliente. Tão somente. Se você quiser mais que isso, ache uma necessidade do mercado, crie uma solução, dê forma e marca a ela e torne-se cliente. Mérito por mérito, que se dane o famoso leão, e que venha mais injeção de verba para a manutenção do seu ganha-pão.
– Exploda a necessidade de ter o nome na Ficha Técnica do anúncio. Melhor dar créditos aos resultados da sua peça. Mais vale uma mala-direta que fez a promoção da loja do shopping estourar de vendas do que um anúncio que pede para ser moldurado e só.
– (outro modo de dizer a mesma coisa) Será que existe anunciante querendo comunicar sem vender por essas bandas do equador?
– Tenha a real convicção de que, por trás de um profissional de marketing, existem acionistas fissurados em relatórios, relatórios, relatóóóórios e pouco se lixando para teorias sobre arte, redação. Sejamos realistas e práticos. A empatia só é colocada em ação do nosso lado, pois somos os contratados.
– Cliente não é problema, mas é muito bom que você seja solução.
– Brief não é bula de remédio nem manual de carro. Se tiver um, dê graças a Jah e mergulhe de cabeça no objetivo de marketing, a fim de diminuir os riscos e cumprir sua missão.
- Não tem lógica trabalhar só em função de ganhar prêmio. Isso pode ser consequência. Mude o foco. Ao menos você não viverá se frustrando.
– É preciso por fim no preconceito e queimar neurônio para aumentar a oferta e o logotipo nas mesmas proporções que o conceito e a execução da ideia.
– A maior fatia do bolo está mudando de mão. Se não souber comer com talher, vai fazer meleca.
– Quem só vive de fantasma é paranormal.
– O atendimento coleta o brief, o planejamento planeja, a criação cria, a mídia compra espaços, a produção produz, o RTV não sei e o resultado vai pro bolso do cliente. Hoje nós temos mais tecnologia, mas muito pouco da essência desse negócio mudou nas últimas décadas. As angústias, percepções, pensamentos e serões são os mesmos. Só muda mesmo a forma de apresentação ou o nome, mas isso é fácil para quem exerce o ofício de rotular de forma diferente o que se faz sempre igual.
Por fim, abra seus olhos para a maturidade, sua mente para o conhecimento do negócio da publicidade porque, hoje, as empresas investem na comunicação que vende, que chega junto do consumidor. Talvez seja isso o almejado pensar que os seus anúncios precisam passar. Não os que escondem a marca e os benefícios do produto com sacadinha visual e manjada.
Este é só mais um anúncio como tantos outros que você ainda vai ver por aí – quem sabe até criar um –, que usa dois elementos compondo um terceiro, o cérebro. No caso, composto por um coração que ama o que faz com outro que dói toda vez que vê sempre os mesmos problemas na nave-mãe publicitária.
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